O diálogo, a conversa, o bate-papo, a comunicação seja qual for o nome que é dado tem como prerrequisito a escuta, o ouvir. Essa capacidade é drasticamente escassa em muitos de nós guiguis, para não dizer todos nós. Não quero com isso afirmar que é um problema exclusivamente nosso, mas o seu nível em nós bissau-guineenses é de tamanha gigantesca e tem raízes bem profundas. E o pior disso tudo (pelo que me parece) é que não damos conta desse mal, nunca damos conta para poder talvez colocá-lo em xeque.
Quase em todos diálogos/conversas de que participei/participo percebo que a única preocupação de cada "interlocutor" é falar e ser ouvido e nada mais. Que cultura ou costume (in) digna! Sei que haverá muitos que irão discordar comigo, que estejam a vontade para tal. Os/as compatriotas menos desatentos provavelmente observam tal comportamento cotidianamente.
Quem nunca assistiu ou participou de um bate-papo de dois, três, quatro guiguis em que TODOS falam ao mesmo tempo e sistematicamente puxam braços uns aos outros com o intuito de chamar atenção para serem escutados (aqui eu disse TODOS porque é mais frequente no seio dos "homis"). E as nossas reuniões fortemente marcadas com colocações ou críticas agressivas, alguém nunca participou/assistiu? Se você nunca passou por isso, sorte sua.
Alguém pode até achar isso uma virtude, uma boa qualidade que temos ou uma prática cultural que nos diferencia dos outros. Mas a meu ver a falta de escutar o Outro, o seu interlocutor, é um problema que nos impede superar nossos conflitos do dia-a-dia, assim como saber resolver os desafios do país há mais de 40 anos. Um típico exemplo disso é o último impasse entre o PR JOMAV, DSP e a direção do seu próprio partido. Foi preciso evocar Senegal, Guiné Conacry, CEDEAO, CPLP, UE etc, etc, etc.
Outra capacidade também raro entre nós é a de saber pedir desculpas/falar para o Outro "cara você tinha razão", mas este pode ser assunto da próxima provocação.
Precisamos aprender mais sobre o diálogo/bate-papo, ele vai muito além de falar muito ou falar alto. E o primeiro passo é admitirmos que temos tal problema e desaprender para aprender de outra forma.
Ampus...foram umas das minhas palavras de uma conversa que tive com um colega no intervalo de aulas de ontem CEJAL.
Texto escrito em 02.08.2018 e publicado neste blog em 01.03.2019.
By: Avivaz